O Centro de Preservação Cultural apresenta à comunidade universitária uma minuta de POLÍTICA DE ACERVOS PARA A UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, documento reunindo sugestões de princípios, diretrizes e recomendações para o trabalho com acervos no contexto da universidade, em suas várias unidades, museus, institutos e órgãos. Trata-se da sugestão de parâmetros amplos para a gestão, identificação, preservação e difusão dos acervos, constituindo-se em referência para o conjunto da universidade.
Esta minuta será apreciada pela comunidade universitária até o fim de abril de 2025. Em maio realizaremos um seminário para consolidar seu texto e encaminhá-la aos órgãos deliberativos competentes.
A Constituição Federal define o patrimônio cultural como o conjunto de bens portadores de referência à memória, identidade e ação dos grupos sociais brasileiros. Identificar, reconhecer e valorizar o patrimônio passa necessariamente, portanto, pelo contato e diálogo com a memória das pessoas que detêm e vivem cotidianamente o patrimônio. Esta memória, contudo, não pode se limitar àqueles tidos como personagens notáveis ou associados aos eventos e instituições célebres: tão importante quanto esta memória (ou talvez ainda mais relevante) é aquela memória cotidiana, vivida e construída pelo dia-a-dia de pessoas anônimas.
O bairro do Bexiga — onde se concentram um terço dos bens tombados do município de São Paulo — ainda é associado por quem não compartilha de seu cotidiano a um passado quase exclusivamente ligado à herança da imigração italiana. No entanto, trata-se de um bairro complexo, marcado pela presença de grupos das mais variadas origens. Trata-se, inclusive, de um importante território negro da cidade de São Paulo.
O Coletivo Negros do Bixiga vem pautando a memória negra do bairro, promovendo entrevistas sistemáticas com moradores e ex-moradores do bairro ligados à memória negra. Desse trabalho resultou o documentário Negros do Bixiga, cujo lançamento lotou o Teatro Sérgio Cardoso em junho de 2024.
Para falar sobre essas memórias cotidianas e anônimas fundamentais para a formação da memória coletiva, conversamos nesta edição do Patrimoniar com Wellinton Souza, membro e um dos fundadores do Coletivo.
Estudantes de graduação da Universidade de São Paulo estão convidados a participar da AEX — Roteiros do patrimônio da USP, que ocorrerá articulada ao 3º Seminário Patrimônio Cultural Universitário. Na atividade os estudantes serão responsáveis pelo oferecimento de itinerários interpretativos dos bens culturais presentes na USP, bem como irão compor a equipe de apoio para a realização do Seminário.
Iniciativas de memorialização e musealização de lugares, registros, referências e testemunhos de dinâmicas de repressão e de resistência associadas a regimes de exceção são alguns dos resultados recorrentes dos chamados processos de justiça de transição. Tais processos pautam a busca pela memória, verdade, justiça e reparação de graves violações de direitos humanos ocorridas em episódios autoritários e traumáticos da história recente de distintos povos e nações. São célebres os processos de justiça de transição ocorridos após eventos violentos e traumáticos, como o Holocausto na Alemanha, o Apartheid na África do Sul e as ditaduras civil-militares que tiveram lugar, por exemplo, em vários dos países latino-americanos ao longo do século 20.
Na última semana de julho acontece no Centro de Preservação Cultural – Casa de Dona Yayá a oficina intensiva Vai-Vai fica: possibilidades para a quadra do Vai-Vai no Bixiga. Iniciativa em parceria do CPC com a escola de samba Vai-Vai e com o coletivo Malungo, a oficina pretende reunir pessoas interessadas em pensar de forma colaborativa possibilidades, estudos e projetos para a ocupação de espaços do bairro pelo Vai-Vai.
O Centro de Preservação Cultural – Casa de Dona Yayá, órgão da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária, promove entre os dias 3 e 6 de setembro de 2024 o 3º Seminário Patrimônio Cultural Universitário. Com a intenção de debater questões ligadas à gestão, pesquisa, preservação, interpretação e valorização dos bens culturais próprios da vida e da experiência universitária, o CPC busca com este evento reunir pesquisadores, estudantes, profissionais e demais interessados no tema.
Com apoio da Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento e da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, o evento é organizado em torno de conferências, mesas de debate e sessões de comunicação, nas quais serão discutidas e apresentadas as várias facetas das referências culturais universitárias, abarcando edificações, monumentos, acervos, celebrações, lugares, formas de expressão, celebrações, paisagens e naturezas vividas nas universidades.
O território ocupado atualmente pelos municípios da Região Metropolitana de São Paulo apresenta registros de ocupação muito anteriores à presença dos colonizadores europeus. Para além do mito conciliatório relacionado à fundação da vila de São Paulo, pelo qual teria havido mútua colaboração entre povos indígenas e jesuítas, trata-se de um processo tenso marcado por violências e agressões aos povos originários. Apesar de tudo, ainda se verifica a presença e resistência desses povos em duas terras indígenas oficialmente demarcadas, uma na região noroeste e outra na região sul da capital. Esta última — a Terra Indígena Tenondé Porã — é assunto desta edição do Patrimoniar, na qual conversamos com Jerá Guarani, educadora e ativista indígena do povo guarani mbyá.
O mundo dos acervos costuma ser dividido em três esferas: o dos acervos bibliográficos, o dos acervos museológicos e os acervos arquivísticos. Entre bibliotecas, museus e arquivos, estes últimos costumam soar aos não iniciados como entidades um tanto herméticas ou insossas: meros repositórios de documentos velhos sem maiores atrativos. Arquivos, contudo, são fundamentais para articular a memória de coletivos e instituições e preservar o conjunto de documentos produzidos ao longo de suas atividades e trajetórias.
Para discutir o mundo dos arquivos — e em particular o universo dos arquivos na Universidade de São Paulo — conversamos nesta edição do Patrimoniar com Lilian Miranda Bezerra e com José Hermes Martins Pereira, historiadores e profissionais atuantes no Arquivo Geral da USP. Ao longo da conversa discutimos o que caracteriza um arquivo, o que um arquivo deve e o que não deve ser, o caráter dos documentos presentes nos arquivos e como lidar com eles, bem como os desafios para sua preservação.
Uma miríade de manifestações culturais caracteriza o dia-a-dia da vida universitária: estudantes, docentes, profissionais das universidades e demais frequentadores e entusiastas dos campi universitários constituem grupos sociais detentores de inúmeros bens culturais específicos da experiência universitária. De tradições e práticas de aulas e de laboratórios aos rituais ligados às manifestações esportivas, políticas e artísticas promovidas por tais sujeitos; de saberes cotidianos compartilhados por estudantes em suas táticas de enfrentamento dos desafios do dia-a-dia de aulas e pesquisas aos sóbrios e formais ritos de provimento de títulos acadêmicos; de lugares marcados pela memória de festas e pelo acúmulo de afetos cotidianos aos instrumentos, acervos e edificações próprios da cultura e da prática científica: o patrimônio cultural universitário é heterogêneo, complexo e associado a diferentes indivíduos e grupos constituintes da comunidade acadêmica.
Assistimos em tempos recentes à ação de uma série de coletivos culturais atuantes nas periferias urbanas que trabalham dimensões de ancestralidade, identidade e memória, articulando questões raça, gênero e classe e promovendo a salvaguarda de expressões culturais de grupos sistematicamente silenciados. Tratam-se de indivíduos e grupos atuantes na promoção e transmissão dessas manifestações culturais para futuras gerações, muitas vezes sem o devido reconhecimento ou apoio por parte das instâncias oficiais de patrimônio e cultura.
Um caso particular é o do Bloco Afro ÉdiSanto, que atua na região de M´Boi Mirim desde 2010. Surgido como projeto de música percussionista com o objetivo de mesclar ritmos ligados ao culto aos orixás com expressões musicais contemporâneas, o bloco pauta questões ligadas às culturas de matriz africana, às ancestralidades e à vida na periferia de São Paulo. Desde sua fundação o bloco se expandiu, abarcando hoje também questões de gênero, por exemplo, com o projeto Macumbarias Femininas, e saindo todos os anos para desfilar pela região de M´Boi Mirim durante o carnaval. O trabalho do bloco é contínuo, participando ainda da articulação de redes nacionais voltadas à ancestralidade e à cultura e música afro.