Patrimoniar #12. Mestre Rabi Batukeiro e o Bloco ÉdiSanto

Assistimos em tempos recentes à ação de uma série de coletivos culturais atuantes nas periferias urbanas que trabalham dimensões de ancestralidade, identidade e memória, articulando questões raça, gênero e classe e promovendo a salvaguarda de expressões culturais de grupos sistematicamente silenciados. Tratam-se de indivíduos e grupos atuantes na promoção e transmissão dessas manifestações culturais para futuras gerações, muitas vezes sem o devido reconhecimento ou apoio por parte das instâncias oficiais de patrimônio e cultura.

Um caso particular é o do Bloco Afro ÉdiSanto, que atua na região de M´Boi Mirim desde 2010. Surgido como projeto de música percussionista com o objetivo de mesclar ritmos ligados ao culto aos orixás com expressões musicais contemporâneas, o bloco pauta questões ligadas às culturas de matriz africana, às ancestralidades e à vida na periferia de São Paulo. Desde sua fundação o bloco se expandiu, abarcando hoje também questões de gênero, por exemplo, com o projeto Macumbarias Femininas, e saindo todos os anos para desfilar pela região de M´Boi Mirim durante o carnaval. O trabalho do bloco é contínuo, participando ainda da articulação de redes nacionais voltadas à ancestralidade e à cultura e música afro.

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Patrimoniar #11. Adriana Capretz: Memória, silenciamento e crime ambiental em Maceió

Patrimoniar #11. Adriana Capretz: Memória, silenciamento e crime ambiental em Maceió

A cidade de Maceió, em Alagoas, tem vivido nos últimos anos os efeitos violentos e assustadores decorrentes da mineração predatória em seu território. A extração sistemática de sal-gema por parte da empresa Braskem ao longo de décadas em camadas profundas do solo provocou abalo das camadas superficiais, inviabilizando a vida em bairros inteiros e levando à condenação de construções e estruturas diversas presentes nestes locais. A necessidade de evacuar tal região levou a uma diáspora forçada de parcelas significativas da população de Maceió, redundando na perda de laços de sociabilidade, de vínculos afetivos, de práticas culturais e de manifestações e referências culturais enraizadas neste território. Para além das perdas materiais, trata-se de um violento processo de apagamento de memórias, vivências e práticas culturais cotidianas. Em reação ao duro golpe promovido na vida de milhares de pessoas, repentinamente obrigadas a deixar suas casas e seus cotidianos, diversas iniciativas de memória e de denúncia do crime ambiental vêm sendo promovidas por coletivos e indivíduos diversos.

Para discutir estas questões, nesta edição do Patrimoniar em dezembro de 2023 conversamos com a pesquisadora Adriana Capretz Borges da Silva Manhas, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Ao longo do programa retomamos o histórico do desastre ambiental promovido na cidade, seus efeitos materiais e os processos de silenciamento e apagamento de referências culturais e de memória existentes naquela região.

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Patrimoniar #10. Abílio Ferreira: a Capela dos Aflitos, a Liberdade e a memória negra em São Paulo

Patrimoniar #09. Abílio Ferreira: a Capela dos Aflitos, a Liberdade e a memória negra em São Paulo

Em cidades como São Paulo são muitos os casos de espaços que passaram por transformações expressivas ao longo do processo de desenvolvimento urbano. Antigas praças e largos desaparecem, edifícios são demolidos e substituídos por outros e marcos da paisagem se transformam em referências perdidas na memória quem ali viveu. Muitos desses casos de demolição e reconstrução de espaços e lugares estão associados a processos de apagamento e silenciamento das referências culturais e urbanas de grupos sociais minoritários ou tidos como indesejáveis. Apesar destes apagamentos, certos sinais permanecem silenciosos no tecido urbano.

Nesta edição do Patrimoniar conversamos com Abílio Ferreira — jornalista, escritor, pesquisador e ativista do movimento negro — a respeito desses processos de silenciamento, dos sinais que permanecem e de como é possível lidar com o espaço urbano na perspectiva de um jogo em busca destes sinais — um jogo que articula resistência e apropriação da cidade. Conversamos especialmente sobre acontecimentos recentes ligados à memória e ao patrimônio cultural no bairro da Liberdade e sobre o caso da Capela dos Aflitos, localizada nesta região.

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Patrimoniar #09. Fernanda Vargas: o Bexiga nordestino

Patrimoniar #09. Fernanda Vargas: o Bexiga nordestino

Embora o bairro do Bexiga seja tradicionalmente apontado como uma região multicultural e plural, a associação entre a região e sua memória italiana costuma se destacar em relação às suas demais representações. Embora trate-se de fato de um importante território da imigração italiana em São Paulo, o Bexiga está longe de se caracterizar apenas como um “bairro italiano”: foi nesta região, lembremos, que se desenvolveu um importante quilombo urbano em São Paulo, tornando-a também importante território negro da cidade.

Outros grupos, contudo, também ocupam o bairro, desenvolvem nele suas manifestações culturais e lhe dão vida — ainda que suas presenças sejam alvo de processos de apagamento ou marginalização por parte das demais representações do bairro. Nesta edição do Patrimoninar nós conversamos com Fernanda Vargas a respeito do Bexiga nordestino. Fernanda é cineasta e gestora cultural e é autora de dissertação de mestrado sobre a presença nordestina no Bexiga e co-diretora, junto de Daniel Fagundes, do documentário Oxente, Bixiga!, a respeito do mesmo tema.

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Patrimoniar #08. Claudionor Brandão, Magno de Carvalho e Neli Wada: memória do Sindicato dos Trabalhadores da USP

Patrimoniar #08. Claudionor Brandão, Magno de Carvalho e Neli Wada: memória do Sindicato dos Trabalhadores da USP

Segundo a Carta Patrimonial da USP, o patrimônio cultural universitário é formado por bens portadores de referência à memória, identidade e ação dos vários grupos sociais formadores da Universidade. Entender esse patrimônio envolve, portanto, reconhecer as várias referências culturais relevantes para todos os membros da comunidade universitária: estudantes, servidores docentes e servidores técnico-administrativos. Parte da memória dos docentes e, em alguma medida, a dos estudantes, contudo, já estão razoavelmente bem representadas em monumentos, topônimos, publicações e outras iniciativas de memorialização: temos espalhadas pela universidade inúmeras salas, auditórios, edifícios e laboratórios nomeados a partir de célebres e saudosos ex-docentes e ex-alunos da universidade, assim como monumentos como aquele dedicado ao professor Ramos de Azevedo em frente à Escola Politécnica. No entanto, uma parte importante da vida universitária ainda permanece pouco representada nas narrativas, na memória e no patrimônio universitário — aquela referente aos técnicos-administrativos, personagens que normalmente atuam nos bastidores da universidade responsáveis por fazer suas engrenagens funcionarem adequadamente.

Neste programa o CPC tem o prazer de ouvir o depoimento de três lideranças históricas do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp): Claudionor Brandão, Magno de Carvalho e Neli Wada. Estes depoimentos falam sobre o trabalho e a militância no dia-a-dia da universidade, a memória das primeiras manifestações sindicais — ainda fortemente reprimidas pela Ditadura Militar —, a trajetória de lutas, disputas e conquistas e a maneira como toda essa memória está presente no dia-a-dia da universidade.

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Patrimoniar #07. Andréa Tourinho. Patrimônio, planejamento e planos diretores

Sobre um fundo amarelo constam as seguintes informações:

Patrimoniar #07. Andréa Tourinho. Patrimônio, planejamento e planos diretores

A definição e implementação de políticas públicas constitui uma das dimensões mais importantes do campo do patrimônio cultural: é por meio delas que instrumentos de identificação, preservação e valorização dos bens culturais manifestam-se publicamente e ganham alcance social, sobretudo no ambiente urbano. Neste sentido, é pauta recorrente na trajetória de debates e estudos sobre as políticas públicas de patrimônio a da integração deste campo com o do planejamento urbano. Com efeito, desde meados dos anos 1960 que esta pauta aparece e reaparece nas discussões patrimoniais. São várias as questões ligadas a este debate: em que medida o patrimônio cultural deve aparecer nos planos diretores das cidades? Quais os limites e as potencialidades dos instrumentos urbanísticos na salvaguarda do patrimônio? O progresso da cidade é um entrave à preservação do patrimônio e vice-versa?

Neste momento a cidade de São Paulo discute a revisão de seu Plano Diretor Estratégico. Esta proposta de revisão, contudo, tem sido criticada por diversos pesquisadores, profissionais, ativistas e militantes ligados à academia e aos movimentos sociais em função de ameaças às referências culturais e às marcas da memória social presentes em um território que pode sofrer alterações materiais profundas. Para discutir estes e outros assuntos afins conversamos nesta edição do Patrimoniar com a arquiteta urbanista e professora Andréa Tourinho, pesquisadora e profissional com ampla experiência na interface entre patrimônio cultural e planejamento urbano.

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Patrimoniar #06. Museus e acervos na universidade

Sobre um fundo amarelo, constam as inscrições:

Patrimoniar #06. Museus e acervos na universidade

Carla Gibertoni Carneiro, Cibele Monteiro da Silva, Flávia Andréa Machado Urzua e Mauricio Candido da Silva.

Há um ditado que corre o mundo dos museus e acervos: “Todas as grandes universidades possuem grandes museus.”

De fato, são inúmeros os casos de universidades de renome internacional que abrigam redes relevantes de museus e outras coleções acadêmicas. A Universidade de São Paulo não foge à regra: além de reunir quatro grandes museus inscritos em seu estatuto ― Museu Paulista (MP), Museu de Zoologia (MZ), Museu de Arqueologia e Etnologia e Museu (MAE) e Museu de Arte Contemporânea (MAC) ― há inúmeros outros pequenos museus ligados às unidades universitárias bem como coleções ligadas a departamentos, laboratórios e outras estruturas de ensino, pesquisa e extensão universitária. De fato, esse rico conjunto de coleções atravessa a história da universidade, constituindo-se de um gigantesco e fascinante rol de documentos, artefatos, obras de arte e outros objetos das mais variadas naturezas e suportes.

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Patrimoniar #05. Welita Caetano: Movimentos de moradia e o bairro do Bexiga

Patrimoniar #05. Welita Caetano: Movimentos de moradia e o bairro do Bexiga

As áreas centrais de São Paulo são marcadas pela presença de uma série de edifícios que, por permanecerem ociosos por longos períodos, descumprem a função social da propriedade privada prevista pela Constituição Federal. Ao mesmo tempo, por outro lado, o avanço do mercado imobiliário nessas áreas têm levado à demolição de antigos edifícios e à expulsão de populações de baixa renda, o que resulta em alterações significativas ao patrimônio cultural espalhado pela cidade. Os movimentos de moradia que atuam nas áreas centrais têm promovido papel fundamental tanto na defesa da função social da propriedade, ocupando imóveis vazios, quanto na resistência aos processos de expulsão de populações vulneráveis.

Neste programa conversamos com Welita Caetano, cientista do trabalho e liderança da Frente de Luta por Moradia (FLM). Ao longo da conversa abordamos as práticas e manifestações culturais e políticas dos movimentos de moradia, sua memória e os impactos de projetos recentes na memória e na identidade do bairro do Bexiga.

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Patrimoniar #04. Claudia Alexandre: Vai-vai, o samba e o candomblé

Patrimoniar #04

O carnaval é o momento do ano em que o samba é tornado um espetáculo exibido pela televisão e acompanhado por milhões de pessoas. Contudo, como manifestação e referência cultural de diversos grupos sociais, o samba, o carnaval e todas as práticas associadas a este importante bem cultural são caracterizados por inúmeras camadas de significado, ação e memória — e apenas a superfície dessas camadas é devidamente capturada durante a sua espetacularização televisiva. São muitas as conexões entre o samba e o carnaval e a ancestralidade, a religiosidade e a memória negra: muitos dos signos ligados a essas conexões permanecem invisíveis ou ignorados. O samba, o carnaval e a religiosidade de matriz africana foram alvo de inúmeros processos violentos de repressão e silenciamento ao longo de sua existência, tornando sua prática hoje uma forma de reafirmação da resistência — contudo, processos de repressão e silenciamento continuam operando nos dias atuais, como aqueles que levaram ao despejo da escola de samba Vai-Vai de sua sede no bairro do Bexiga, em São Paulo.

Nesta edição do Patrimoniar conversamos com Claudia Alexandre a respeito de suas pesquisas no campo da ciência da religião sobre o samba, o carnaval, o candomblé e a escola de samba Vai-Vai.

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Patrimoniar #03. Alberto Luiz dos Santos e Rodrigo Accioli Almeida: futebol e patrimônio cultural

Patrimoniar #03. Alberto Luiz dos Santos e Rodrigo Accioli Almeida: futebol e patrimônio cultural

Mais do que uma modalidade esportiva, o futebol se constitui no Brasil de uma prática cultural popular que mobiliza afetos, memórias, identidades e lugares. Dos grandes estádios aos campos de várzea, das peladas nas ruas aos espetáculos comerciais, ao redor do futebol orbitam diversas formas de rituais, performances e disputas — as quais se espalham pelo espaço urbano transcendendo em muito os espaços estritamente dedicados à prática esportiva.

No contexto de mais uma Copa do Mundo, o CPC pauta o futebol como patrimônio cultural em uma conversa com os geógrafos e pesquisadores Alberto Luiz dos Santos e Rodrigo Accioly Almeida, autores de pesquisas recentemente defendidas na Universidade de São Paulo a respeito de distintas facetas dessa prática que tanto diz sobre a ação, identidade e memória de parcelas significativas da população brasileira.

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