O território ocupado atualmente pelos municípios da Região Metropolitana de São Paulo apresenta registros de ocupação muito anteriores à presença dos colonizadores europeus. Para além do mito conciliatório relacionado à fundação da vila de São Paulo, pelo qual teria havido mútua colaboração entre povos indígenas e jesuítas, trata-se de um processo tenso marcado por violências e agressões aos povos originários. Apesar de tudo, ainda se verifica a presença e resistência desses povos em duas terras indígenas oficialmente demarcadas, uma na região noroeste e outra na região sul da capital. Esta última — a Terra Indígena Tenondé Porã — é assunto desta edição do Patrimoniar, na qual conversamos com Jerá Guarani, educadora e ativista indígena do povo guarani mbyá.
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A cidade de Maceió, em Alagoas, tem vivido nos últimos anos os efeitos violentos e assustadores decorrentes da mineração predatória em seu território. A extração sistemática de sal-gema por parte da empresa Braskem ao longo de décadas em camadas profundas do solo provocou abalo das camadas superficiais, inviabilizando a vida em bairros inteiros e levando à condenação de construções e estruturas diversas presentes nestes locais. A necessidade de evacuar tal região levou a uma diáspora forçada de parcelas significativas da população de Maceió, redundando na perda de laços de sociabilidade, de vínculos afetivos, de práticas culturais e de manifestações e referências culturais enraizadas neste território. Para além das perdas materiais, trata-se de um violento processo de apagamento de memórias, vivências e práticas culturais cotidianas. Em reação ao duro golpe promovido na vida de milhares de pessoas, repentinamente obrigadas a deixar suas casas e seus cotidianos, diversas iniciativas de memória e de denúncia do crime ambiental vêm sendo promovidas por coletivos e indivíduos diversos.
Para discutir estas questões, nesta edição do Patrimoniar em dezembro de 2023 conversamos com a pesquisadora Adriana Capretz Borges da Silva Manhas, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Ao longo do programa retomamos o histórico do desastre ambiental promovido na cidade, seus efeitos materiais e os processos de silenciamento e apagamento de referências culturais e de memória existentes naquela região.
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Em cidades como São Paulo são muitos os casos de espaços que passaram por transformações expressivas ao longo do processo de desenvolvimento urbano. Antigas praças e largos desaparecem, edifícios são demolidos e substituídos por outros e marcos da paisagem se transformam em referências perdidas na memória quem ali viveu. Muitos desses casos de demolição e reconstrução de espaços e lugares estão associados a processos de apagamento e silenciamento das referências culturais e urbanas de grupos sociais minoritários ou tidos como indesejáveis. Apesar destes apagamentos, certos sinais permanecem silenciosos no tecido urbano.
Nesta edição do Patrimoniar conversamos com Abílio Ferreira — jornalista, escritor, pesquisador e ativista do movimento negro — a respeito desses processos de silenciamento, dos sinais que permanecem e de como é possível lidar com o espaço urbano na perspectiva de um jogo em busca destes sinais — um jogo que articula resistência e apropriação da cidade. Conversamos especialmente sobre acontecimentos recentes ligados à memória e ao patrimônio cultural no bairro da Liberdade e sobre o caso da Capela dos Aflitos, localizada nesta região.
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Segundo a Carta Patrimonial da USP, o patrimônio cultural universitário é formado por bens portadores de referência à memória, identidade e ação dos vários grupos sociais formadores da Universidade. Entender esse patrimônio envolve, portanto, reconhecer as várias referências culturais relevantes para todos os membros da comunidade universitária: estudantes, servidores docentes e servidores técnico-administrativos. Parte da memória dos docentes e, em alguma medida, a dos estudantes, contudo, já estão razoavelmente bem representadas em monumentos, topônimos, publicações e outras iniciativas de memorialização: temos espalhadas pela universidade inúmeras salas, auditórios, edifícios e laboratórios nomeados a partir de célebres e saudosos ex-docentes e ex-alunos da universidade, assim como monumentos como aquele dedicado ao professor Ramos de Azevedo em frente à Escola Politécnica. No entanto, uma parte importante da vida universitária ainda permanece pouco representada nas narrativas, na memória e no patrimônio universitário — aquela referente aos técnicos-administrativos, personagens que normalmente atuam nos bastidores da universidade responsáveis por fazer suas engrenagens funcionarem adequadamente.
Neste programa o CPC tem o prazer de ouvir o depoimento de três lideranças históricas do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp): Claudionor Brandão, Magno de Carvalho e Neli Wada. Estes depoimentos falam sobre o trabalho e a militância no dia-a-dia da universidade, a memória das primeiras manifestações sindicais — ainda fortemente reprimidas pela Ditadura Militar —, a trajetória de lutas, disputas e conquistas e a maneira como toda essa memória está presente no dia-a-dia da universidade.
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As áreas centrais de São Paulo são marcadas pela presença de uma série de edifícios que, por permanecerem ociosos por longos períodos, descumprem a função social da propriedade privada prevista pela Constituição Federal. Ao mesmo tempo, por outro lado, o avanço do mercado imobiliário nessas áreas têm levado à demolição de antigos edifícios e à expulsão de populações de baixa renda, o que resulta em alterações significativas ao patrimônio cultural espalhado pela cidade. Os movimentos de moradia que atuam nas áreas centrais têm promovido papel fundamental tanto na defesa da função social da propriedade, ocupando imóveis vazios, quanto na resistência aos processos de expulsão de populações vulneráveis.
Neste programa conversamos com Welita Caetano, cientista do trabalho e liderança da Frente de Luta por Moradia (FLM). Ao longo da conversa abordamos as práticas e manifestações culturais e políticas dos movimentos de moradia, sua memória e os impactos de projetos recentes na memória e na identidade do bairro do Bexiga.
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Intervenções e empreendimentos recentes na região do Bexiga, na área central de São Paulo, vêm levantando discussões a respeito da preservação do bairro e dos elementos ligados à memória dos grupos que tradicionalmente o ocupam. Bairro centenário, o Bexiga é usualmente associado à herança da imigração italiana. Contudo, trata-se de um bairro polifônico e caracterizado por inúmeras manifestações culturais e de memória. Uma delas, em particular, se destaca: trata-se da presença e da memória negra na região, onde havia pelo menos desde o século 19 um quilombo urbano. A implementação de uma nova linha de metrô na cidade, cortando o Bexiga, foi catalisadora de uma mobilização pelo reconhecimento e valorização da memória negra no Bexiga, bem como pela salvaguarda do direito à permanência da população negra e de baixa renda no bairro. Entre os vários efeitos dessas recentes intervenções urbanas assistimos, particularmente, à demolição do conjunto de edificações ligadas à Escola de Samba Vai-Vai, cuja história se confunde com a do Bexiga.
Neste programa conversamos sobre esse e outros assuntos ligados à pauta do direito à cidade antirracista com Gisele Brito, jornalista, ativista e mestre em Arquitetura e Urbanismo. Gisele atua no Instituto de Referência Negra Peregum e na articulação Saracura/Vai-Vai.
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