Patrimoniar #16. Wellinton Souza: Negros do Bixiga

A Constituição Federal define o patrimônio cultural como o conjunto de bens portadores de referência à memória, identidade e ação dos grupos sociais brasileiros. Identificar, reconhecer e valorizar o patrimônio passa necessariamente, portanto, pelo contato e diálogo com a memória das pessoas que detêm e vivem cotidianamente o patrimônio. Esta memória, contudo, não pode se limitar àqueles tidos como personagens notáveis ou associados aos eventos e instituições célebres: tão importante quanto esta memória (ou talvez ainda mais relevante) é aquela memória cotidiana, vivida e construída pelo dia-a-dia de pessoas anônimas.

O bairro do Bexiga — onde se concentram um terço dos bens tombados do município de São Paulo — ainda é associado por quem não compartilha de seu cotidiano a um passado quase exclusivamente ligado à herança da imigração italiana. No entanto, trata-se de um bairro complexo, marcado pela presença de grupos das mais variadas origens. Trata-se, inclusive, de um importante território negro da cidade de São Paulo.

O Coletivo Negros do Bixiga vem pautando a memória negra do bairro, promovendo entrevistas sistemáticas com moradores e ex-moradores do bairro ligados à memória negra. Desse trabalho resultou o documentário Negros do Bixiga, cujo lançamento lotou o Teatro Sérgio Cardoso em junho de 2024.

Para falar sobre essas memórias cotidianas e anônimas fundamentais para a formação da memória coletiva, conversamos nesta edição do Patrimoniar com Wellinton Souza, membro e um dos fundadores do Coletivo.

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Patrimoniar #10. Abílio Ferreira: a Capela dos Aflitos, a Liberdade e a memória negra em São Paulo

Patrimoniar #09. Abílio Ferreira: a Capela dos Aflitos, a Liberdade e a memória negra em São Paulo

Em cidades como São Paulo são muitos os casos de espaços que passaram por transformações expressivas ao longo do processo de desenvolvimento urbano. Antigas praças e largos desaparecem, edifícios são demolidos e substituídos por outros e marcos da paisagem se transformam em referências perdidas na memória quem ali viveu. Muitos desses casos de demolição e reconstrução de espaços e lugares estão associados a processos de apagamento e silenciamento das referências culturais e urbanas de grupos sociais minoritários ou tidos como indesejáveis. Apesar destes apagamentos, certos sinais permanecem silenciosos no tecido urbano.

Nesta edição do Patrimoniar conversamos com Abílio Ferreira — jornalista, escritor, pesquisador e ativista do movimento negro — a respeito desses processos de silenciamento, dos sinais que permanecem e de como é possível lidar com o espaço urbano na perspectiva de um jogo em busca destes sinais — um jogo que articula resistência e apropriação da cidade. Conversamos especialmente sobre acontecimentos recentes ligados à memória e ao patrimônio cultural no bairro da Liberdade e sobre o caso da Capela dos Aflitos, localizada nesta região.

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Patrimoniar #02. Gisele Brito: memória negra no Bexiga

Patrimoniar #02. Gisele Brito: memória negra no Bexiga

Intervenções e empreendimentos recentes na região do Bexiga, na área central de São Paulo, vêm levantando discussões a respeito da preservação do bairro e dos elementos ligados à memória dos grupos que tradicionalmente o ocupam. Bairro centenário, o Bexiga é usualmente associado à herança da imigração italiana. Contudo, trata-se de um bairro polifônico e caracterizado por inúmeras manifestações culturais e de memória. Uma delas, em particular, se destaca: trata-se da presença e da memória negra na região, onde havia pelo menos desde o século 19 um quilombo urbano. A implementação de uma nova linha de metrô na cidade, cortando o Bexiga, foi catalisadora de uma mobilização pelo reconhecimento e valorização da memória negra no Bexiga, bem como pela salvaguarda do direito à permanência da população negra e de baixa renda no bairro. Entre os vários efeitos dessas recentes intervenções urbanas assistimos, particularmente, à demolição do conjunto de edificações ligadas à Escola de Samba Vai-Vai, cuja história se confunde com a do Bexiga.

Neste programa conversamos sobre esse e outros assuntos ligados à pauta do direito à cidade antirracista com Gisele Brito, jornalista, ativista e mestre em Arquitetura e Urbanismo. Gisele atua no Instituto de Referência Negra Peregum e na articulação Saracura/Vai-Vai.

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